Quando nascemos, herdamos de imediato. As parecenças da mãe, do pai, da avó, do avô, dos irmãos ou até dos tios. Herdamos também as suas “bagagens”: os seus tiques, as suas convicções, a sua religião, o fanatismo dos seus clubes preferidos, as suas histórias. E cumpre-nos honrar, na medida do possível, num frágil equilíbrio entre o que nos é transmitido e a nossa individualidade, essa herança, essa “bagagem”, essa história familiar.
E é essa exortação que pretendo fazer a todos os conterrâneos: a de honrarem a nossa história, a de transmitirem o amor pela terra natal, pela nossa língua materna, pelas nossas ligações familiares. A segunda geração de emigrantes tem uma importância fundamental no garante da defesa e manutenção das nossas tradições. Tem que haver por parte dos nossos emigrantes, e aqui refiro-me aos açorianos em particular, uma vontade inabalável para persistirem na árdua tarefa de serem o estandarte da nossa mui orgulhosa açorianidade.
Falo por experiência própria. Nascida nos Estados Unidos da América, desde criança que falei duas línguas e fiquei ciente de duas culturas distintas que fui, com o auxílio de meus pais, entrecruzando com o maior sucesso: em casa e em família falava-se o Português; lá fora, na escola e em outros círculos sociais, falava-se o Inglês. Quis o destino que regressasse aos Açores, mas os ensinamentos ficaram e hoje em dia muito contribuem para o meu sucesso profissional.
Que se fale, pois, o Português em nossas casas, estejamos onde quer que seja neste mundo, com os nossos filhos e netos e com os nossos amigos!
Visitemos a nossa terra quantas vezes seja possível! Mostrem aos nossos descendentes qual foi a casa onde o pai e a mãe nasceram, o coreto ou jardim onde se conheceram e namoraram, a Igreja onde se casaram, as casotas do milho onde empenharam tantas horas das suas infâncias e juventude! Venham recuperar a “casa velha” ou a “casa da avó”, preservar essa identidade familiar própria e criar um espaço de reunião familiar, um espaço de férias! Na verdade, as condições nunca estiveram tão propícias…
Actualmente, vive-se uma conjuntura propícia ao investimento em Portugal, abrindo-se novas portas e novas oportunidades de negócio, nomeadamente no mercado imobiliário, entre outros. Daí que se verifique uma nova tendência de imigração. A verdade é que, muitas vezes no Outono da vida, os emigrantes regressam à terra natal para matar as suas saudades e voltar às suas amadas origens. E cada vez mais se vêem muitos emigrantes regressar e recuperar as terras perdidas e as casas esquecidas, procurando um conforto (emocional e não só) que nunca poderão encontrar nos destinos que outrora encontraram.
Dêem, portanto, aos vossos descendentes, essa história, essa herança, essa identidade, esse lugar no mundo. Um lugar próprio e único. Ninguém mais do que o povo Português, e o Açoriano em particular, consegue compreender este chamamento, esta saudade, que é tão próprio das nossas gentes. Venham, que são bem-vindos!
Nélia Vaz,
Advogada (www.neliavaz.com)
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